terça-feira, 17 de agosto de 2010

Renascimento


Renascimento, Renascença ou Renascentismo são os termos usados para identificar o período da História da Europa aproximadamente entre fins do século XIII e meados do século XVII, mas os estudiosos não chegaram a um consenso sobre essa cronologia, havendo variações consideráveis nas datas conforme o autor. Seja como for, o período foi marcado por transformações em muitas áreas da vida humana, que assinalam o final da Idade Média e o início da Idade Moderna. Apesar de estas transformações serem bem evidentes na cultura, sociedade, economia, política e religião, caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo e significando uma ruptura com as estruturas medievais, o termo é mais comumente empregado para descrever seus efeitos nas artes, na filosofia e nas ciências.
O Humanismo
Quando falamos sobre a Idade Média, logo pensamos em uma época em que o pensamento religioso predominava nas mais diversas esferas da existência. Qualquer fenômeno, acontecimento ou experiência estariam atrelados a uma explicação originada nos desígnios divinos. Dessa forma, a Igreja tinha um forte papel social ao influenciar fortemente na forma em que os homens dessa época deveriam compreender a realidade que o cerca.
Apesar destas evidências, não podemos dizer que a preocupação com o homem inexistia no período medieval. De fato, muitas das manifestações humanistas do Renascimento estiveram influenciadas não só pela Antiguidade Clássica, mas também por textos e ideias já notadas no decorrer da Baixa Idade Média. O contato com a cultura muçulmana, o crescimento das cidades e o nascimento das universidades marcaram o aparecimento de questões humanísticas entre vários pensadores medievais.
O movimento Renascentista nada mais é do que o nome dado ao Renascimento Cultural, que aconteceu durante os séculos XIX, XV E XVI na Europa, movimento que procurava resgatar a cultura esquecida durante os tempos medievais.

Renascimento Artístico
As conquistas marítimas e o contato mercantil com a Ásia ampliaram o comércio e a diversificação dos produtos de consumo na Europa a partir do século XV. Com o aumento do comércio, principalmente com o Oriente, muitos comerciantes europeus fizeram riquezas e acumularam fortunas. Com isso, eles dispunham de condições financeiras para investir na produção artística de escultores, pintores, músicos, arquitetos, escritores, etc.
Os  governantes europeus e o clero passaram a dar proteção e ajuda financeira aos artistas e intelectuais da época. Essa ajuda, conhecida como mecenato, tinha por objetivo fazer com que esses mecenas (governantes e burgueses) se tornassem mais populares entre as populações das regiões onde atuavam. Neste período, era muito comum as famílias nobres encomendarem  pinturas (retratos) e esculturas junto aos artistas.

Foi na Península Itálica que o comércio mais se desenvolveu neste período, dando origem a uma grande quantidade de locais de produção artística. Cidades como, por exemplo,
Veneza, Florença e Gênova tiveram um expressivo movimento artístico e intelectual. Por este motivo, a Itália passou a ser conhecida como o berço do Renascimento.
Principais representantes do Renascimento Italiano e suas principais obras:
- Giotto di Bondone (1266-1337) - pintor e arquiteto italiano. Um dos precursores do Renascimento. Obras principais: O Beijo de Judas, A Lamentação e Julgamento Final.

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Michelangelo Buonarroti (1475-1564)- destacou-se em arquitetura, pintura e escultura.Obras principais: Davi, Pietá, Moisés, pinturas da Capela Sistina (Juízo Final é a mais conhecida).

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Rafael Sanzio (1483-1520) - pintou várias madonas (representações da Virgem Maria com o menino Jesus).

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Leonardo da Vinci (1452-1519)- pintor, escultor, cientista, engenheiro, físico, escritor, etc. Obras principais: Mona Lisa, Última Ceia.
Expansão pela Europa

Alemanha

A renascença alemã ocorreu por volta de XVI e XVII. Esse período teve um início particularmente fértil. Grandes mestres , pintores e gravadores, influenciados pela Itália, embora preservassem sua originalidade germânica, deram origem a uma arte de extraordinária densidade: Dürer, de gênio universal, Grünewald, Cranach, o Velho ,. Burgkmair, Altdorfer, H. Baldung e o maravilhoso retratista Holbein, O Jovem. A época seguinte e o século XVII foram muito menos ricos. A tradução da Bíblia por Lutero no século XVI fixou as bases da moderna lingua alemã. A reforma e a contra-reforma inspiraram textos polêmicos, renovaram o lirismo religioso, originaram uma tendência realista (Hans Sachs) e suscitaram uma arte e literatura barrocas, a que se ligou Grimmelshausen. Por volta de 1700, a literatura alemã sofreu uma marcante influência francesa, que mais tarde foi substituida pela inglesa, fato que determinaria a inclinação de Lessing para um teatro de modelo shakespeariano e a constituição de uma primeira modalidade de classicismo no romance e na poesia, levada a efeito por Wieland, À margem do racionalismo, um movimento religioso e sentimental manifestou-se na obra de F. Gottlieb Klopstock.

França

O Renascimento francês foi menos vigoroso que o italiano e o flamengo. Os monarcas Luís XI e Francisco I foram autênticos mecenas ,financiando e protegendo artistas e intelectuais. As realizações mais notáveis estão no campo da literatura, com François Rabelais (1494-1553), criador dos personagens Gargântula e Pantagruel, em livros que renovaram a prosa e criticaram a Igreja e o universo medieval, e na filosofia, com Michael de Montaige (1533-1592).

Inglaterra

Aqui o Renascimento ocorreu tardiamente, no final do século XV , coincidindo com a centralização do Estado Inglês . A música, a literatura e o teatro tiveram um desenvolvimento significativo na Inglaterra renascentista. Surgiram neste período vários tradutores das obras clássicas para o Inglês. Um dos humanistas ingleses mais criativos foi Thomas Morus (1475-1535), autor de Utopia (1516), em que descreve as condições de vida de uma sociedade sem ricos e pobres, em uma ilha imaginária. Por problemas religiosos, ele foi preso e executado por ordem do rei Henrique VIII. O pensador e filósofo Francis Bacon (1561-1626) começou a desenvolver o método indutivo e experimental e ainda serve de referência para a compreensão da ciência moderna. Talvez seja no teatro que tenha surgido o mais notável homem de letras da Inglaterra: William Shakespeare (1564-1618). Considerado como um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, apesar de que algumas de suas obras criticarem os valores do cavaleiro e do mundo medieval e a falta de um rei poderoso, muitas vezes ele demonstrou aceitar a influência do imaginário popular da Idade Média, composto por Bruxas, fantasmas, fadas e faunos.

Portugal e Espanha

O Renascimento na península Ibérica assumiu características especiais, sendo ás vezes influenciado pelas artes mouras e pelo cristianismo. Os renascentistas espanhóis mais importantes foram o pintor El Greco (1541-1614) e o escritor Miguel de Cervantes (1547-1616), autor de Dom Quixote de la Mancha. Em Portugal, o destaque foi o poeta Luís de Camões (1525-1580), autor da famosa epopéia sobre a conquista marítima portuguesa: Os Lusíadas. Há também as obras do teatrólogo Gil Vicente (1470-1536), criador do teatro nacional português.






Nomes: Brenda, Dominique, Gabriela Alcantara, Karen, Márcia e Thaiane

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O impacto da conquista

Milhões de pessoas indígenas viviam na América quando a viagem de Cristovão Colombo de 1492 iniciou o período histórico de contacto europeu em larga escala com América. O contacto dos europeus com o chamado "Novo Mundo" levou à colonização européia da América com milhões de emigrantes (livres e forçados) do "Velho Mundo". Enquanto que a população com origem no velho mundo aumentou progressivamente na América após a viagem de Colombo, a população dos povos indígenas teve um colapso. O grau e as causas deste declínio populacional é há muito tempo objeto de controvérsia e de debate. A passagem dos 500 anos da viagem de Colombo, em 1992, voltou a dar atenção aos clamores dos povos indígenas de que foram vítimas de etnocídio (i.e. destruição da sua cultura).

Europeus e povos indígenas

Muitos povos da América e de outros continentes foram conquistados e colonizados pelos grupos sociais europeus que conduziram essa expansão.
Na América, o contanto entre europeus e indígenas teve profundo impacto para ambos. Representou, segundo o historiador Sérgio Buarque, o confronto de duas humanidades diversas, tão heterogêneas, (...) que não deixa de impor-se entre elas uma intolerância mortal.
A chegada da esquadra de Colombo á América, em 1492, teve grande impacto tanto entre os indígenas quanto entre os europeus.
Durante muito tempo, vários historiadores transmitiram uma visão heróica dos feitos do conquistador, o que tornou corrente o uso da expressão descobrimento ( da América ou do Brasil), enfatizando o “aspecto civilizador” da chegada dos europeus.
Mais recentemente, os historiadores têm analisando a questão sob outros pontos de vista, ressaltando o impacto da presença dos europeus na destruição dos modos de vida e na dizimação dos povos que viviam na América. Desse ângulo, a questão não é colocada como “descobrimento”, mas como invasão e conquista. Todorov: o encontro entre o Velho e o Novo Mundo, que a descoberta de Colombo tornou possível, é de um tipo muito particular: é uma guerra, uma conquista. (Tzvetan Todorov. A conquistada América – a questão do outro. São Paulo, Martins Fontes, 1996. P. 51)
Descobrimento ou conquista? Essa discórdia terminológica tem raízes antigas. Já em 1556, havia determinações do rei da Espanha proibindo o uso da palavra conquista e propondo a utilização do termo descobrimento. Não se trata, contudo, de mera preferência por palavras. O conceito de descobrimento, na maioria das vezes, relaciona-se à exaltação das ações dos europeus, ignorando os processos históricos que aconteciam no continente americano. Entretanto, a América não era um mundo a ser criado ou à espera de seu descobridor¬¬¬ – “já fora descoberta" e habitada milhares de anos antes da chegada dos europeus.
Do lado europeu, conquistadores, missionários religiosos e estudiosos de diversas épocas se interessaram em conhecer as formas de viver e de ser dos povos da América. Eram muito contraditórias as imagens criadas pelos recém-chegados para “explicar” os habitantes do continente americano. Ma essas questões despertadas pelo contato com o outro não foram exclusivas dos europeus: os povos americanos também queriam entender e explicar quem eram aqueles homens tão diferentes, que chegavam de um mundo por eles desconhecido.
Acreditando em antigos relatos de seus antepassados e em certas profecias religiosas, alguns grupos indígenas aguardavam o retorno de seus “deuses”. Assim, os europeus recém-chegados foram, inicialmente, confundidos com esses deuses – e alimentaram essa identificação para legitimar a invasão. Entretanto, os indígenas não demoraram a perceber seu engano.

Estimativas

As estimativas de quantas pessoas viviam na América quando Colombo chegou variam muitíssimo; as estimativas de especialistas do século XXvi variam entre 8,4 milhões e 112,5 milhões de pessoas. Dada a natureza fragmentada dos dados, números precisos da população pré-colombiana são impossíveis de obter e as estimativas são muitas vezes produzidas por extrapolação de dados comparativamente pequenos. Em 1976, o geógrafo William Denevan usou essas variações de estimativas para chegar a uma "contagem consensual" de cerca de 54 milhões de pessoas, apesar de algumas estimativas recentes serem mais baixas que essa. Com base numa estimativa de aproximadamente 50 milhões de pessoas em 1492 (incluindo 25 milhões no Império Asteca e 12 milhões no Império Inca), as estimativas mais baixas dão um total de mortos de 80% até ao fim do século XVI (8 milhões de pessoas em 1650). A América Latina só voltaria a atingir este nível na viragem do século XIX, com 17 milhões em 1800; 30 milhões em 1850; 61 milhões em 1900; 105 milhões em 1930; 218 milhões em 1960; 361 milhões em 1980 e 563 milhões em 2005. Nos últimos 30 anos do século XVI, a população mexicana decresceu fortemente até atingir o nível de 1 milhão em 1600. A população maia é hoje estimada em 6 milhões de pessoas, o que é o mesmo nível de no fim do século XV. É sabido que no Brasil atual a população indígena declinou de um máximo pré-colombiano estimado de 4 milhões para cerca de 300.000 (1997). O historiador David Henigue argumentou que muitas estimativas da população são o resultado da aplicação de fórmulas arbitrárias seletivamente aplicadas a números de fontes históricas não viáveis, uma deficiência que ele vê como não reconhecida por vários contribuintes para este campo científico. Este acredita que não há provas sólidas suficientes para produzir números de população que tenham algum significado real, e caracteriza a tendência moderna de estimativas elevadas como "sobre numeração pseudo-científica". Henige não advoga uma estimativa populacional baixa; em vez disso argumenta que o fato de a informação ser rara e não viável faz com que as estimativas vastas sejam suspeitas e que "sobre contadores" (como lhes chama) têm sido particularmente flagrantes no seu mau uso de fontes. A pesar de as críticas de Henigue serem dirigidas contra algumas instâncias específicas, outros estudos geralmente reconhecem as dificuldades inerentes a produzir estatísticas viáveis dada a quase completa falta de quaisquer dados do período em questão.
O debate sobre a população tem muitas vezes bases ideológicas. As estimativas são muitas vezes o reflexo de noções européias e da sua suposta superioridade cultural e racial, como o historiador Francis Jennings argumentou: "A sabedoria acadêmica considerou durante muito tempo que os índios eram tão inferiores em obras e capacidade mental que não poderiam ter criado e mantido grandes populações". No outro extremo do espectro alguns argumentaram que as estimativas contemporâneas da população indígena pré-colombiana estão baseadas em preconceitos contra aspectos da civilização ocidental e/ou do cristianismo: Robert Royal escreve que "as estimativas de população pré-colombiana se tornaram altamente politizadas e que acadêmicos que são particularmente críticos da Europa muitas vezes favorecem dados muito mais altos.
Uma vez que surgiram e caíram civilizações na América antes de Colombo chegar, a população indígena em 1492 não estava necessariamente a um nível elevado, e podia já estar em declínio. As populações indígenas da América na maioria das áreas alcançaram o ponto mínimo no início do século XX e, num certo número de casos, voltaram a subir.

Civilização Maia

O povo maia habitou a região das florestas tropicais das atuais Guatemala, Honduras e Península de Yucatán (região sul do atual México). Viveram nestas regiões entre os séculos IV a.C e IX a.C. Entre os séculos IX e X, os toltecas invadiram essas regiões e dominaram a civilização maia.
Nunca chegaram a formar um império unificado, fato que favoreceu a invasão e domínio de outros povos. As cidades formavam o núcleo político e religioso da civilização e eram governadas por um estado teocrático. O império maia era considerado um representante dos deuses na Terra.
A zona urbana era habitada apenas pelos nobres (família real), sacerdotes (responsáveis pelos cultos e conhecimentos), chefes militares e administradores do império (cobradores de impostos). Os camponeses, que formavam a base da sociedade, artesão e trabalhadores urbanos faziam parte das camadas menos privilegiadas e tinham que pagar altos impostos.
Arte e arquitetura: pirâmide da civilização maia.
A base da economia maia era a agricultura, principalmente de milho, feijão e tubérculos. Suas técnicas de irrigação eram muito avançadas. Praticavam o comércio de mercadorias com povos vizinhos e no interior do império.
Ergueram pirâmides, templos e palácios, demonstrando um grande avanço na arquitetura. O artesanato também se destacou: fiação de tecidos uso de tintas em tecidos e roupas.
A religião deste povo era politeísta, pois acreditavam em vários deuses ligados à natureza. Elaboraram um eficiente e complexo calendário que estabelecia com exatidão os 365 dias do ano.
Assim como os egípcios, usaram uma escrita baseada em símbolos e desenhos (hieróglifos). Registravam acontecimentos, datas, contagem de impostos e colheitas, guerras e outros dados importantes.
Desenvolveram muito a matemática, com destaque para a invenção das casas decimais e o valor zero.

Civilização Asteca

Povo guerreiro, os astecas habitaram a região do atual México entre os séculos XIV e XVI. Fundaram no século XIV a importante cidade de Tenochtitlán (atual Cidade do México), numa região de pântanos, próxima do lago Texcoco.
A sociedade era hierarquizada e comandada por um imperador, chefe do exército. A nobreza era também formada por sacerdotes e chefes militares. Os camponeses, artesãos e trabalhadores urbanos compunham grande parte da população. Esta camada mais baixa da sociedade era obrigada a exercer um trabalho compulsório para o imperador, quando este os convocava para trabalhos em obras públicas (canais de irrigação, estradas, templos, pirâmides).

Durante o governo do imperador Montezuma II (início do século XVI), o império asteca chegou a ser formado por aproximadamente 500 cidades, que pagavam altos impostos para o imperador. O império começou a ser destruído em 1519 com as invasões espanholas. Os espanhóis dominaram os astecas e tomaram grande parte dos objetos de ouro desta civilização. Não satisfeitos, ainda escravizaram os astecas, forçando-os a trabalharem nas minas de ouro e prata da região.

Arte asteca e arquitetura: pirâmide da civilização asteca
Os astecas desenvolveram muito as técnicas agrícolas, construindo obras de drenagem e as chinampas (ilhas de cultivo), onde plantavam e colhia milho, pimenta, tomate, cacau etc. As sementes de cacau, por exemplo, eram usadas como moedas por este povo.
O artesanato era riquíssimo, destacando-se a confecção de tecidos, objetos de ouro e prata e artigos com pinturas.
A religião era politeísta, pois cultuavam diversos deuses da natureza (deus Sol, Lua, Trovão, Chuva) e uma deusa representada por uma Serpente Emplumada. A escrita era representada por desenhos e símbolos. O calendário maia foi utilizado com modificações pelos astecas. Desenvolveram diversos conceitos matemáticos e de astronomia.
Na arquitetura, construíram enormes pirâmides utilizadas para cultos religiosos e sacrifícios humanos. Estes eram realizados em datas específicas em homenagem aos deuses. Acreditavam que com os sacrifícios, poderiam deixar os deuses mais calmos e felizes.

Civilização Inca

Os incas viveram na região da Cordilheira dos Andes (América do Sul ) nos atuais Peru, Bolívia, Chile e Equador. Fundaram no século XIII a capital do império: a cidade sagrada de Cusco. Foram dominados pelos espanhóis em 1532.
Pintura: arte inca.
O imperador, conhecido por Sapa Inca era considerado um deus na Terra. A sociedade era hierarquizada e formada por: nobres (governantes, chefes militares, juízes e sacerdotes), camada média ( funcionários públicos e trabalhadores especializados) e classe mais baixa (artesãos e os camponeses). Esta última camada pagava altos tributos ao rei em mercadorias ou com trabalhos em obras públicas.
Na arquitetura, desenvolveram várias construções com enormes blocos de pedras encaixadas, como templos, casas e palácios. A cidade de Machu Picchu foi descoberta somente em 1911 e revelou toda a eficiente estrutura urbana desta sociedade. A agricultura era extremamente desenvolvida, pois plantavam nos chamados terraços (degraus formados nas costas das montanhas). Plantavam e colhiam feijão, milho (alimento sagrado) e batata. Construíram canais de irrigação, desviando o curso dos rios para as aldeias. A arte destacou-se pela qualidade dos objetos de ouro, prata, tecidos e jóias.
Domesticaram a lhama (animal da família do camelo) e utilizaram como meio de transporte, além de retirar a lã, carne e leite deste animal. Além da lhama, alpacas e vicunhas também eram criadas.
A religião tinha como principal deus o Sol (deus Inti). Porém, cultuavam também animais considerados sagrados como a condor e o jaguar. Acreditavam num criador antepassado chamado Viracocha (criador de tudo).
Criaram um interessante e eficiente sistema de contagem: o quipo. Este era um instrumento feito de cordões coloridos, onde cada cor representava a contagem de algo. Com o quipo, registravam e somavam as colheitas, habitantes e impostos. Mesmo com todo desenvolvimento, este povo não desenvolveu um sistema de escrita.

América pré-colombiana

Antropólogos e geneticistas populacionais concordam que a grande maioria dos indígenas americanos tem origem a partir das migrações da última Era Glacial vinda da Ásia pela ponte terrestre de Bering. Apesar de a possibilidade de migração em embarcações por rotas costeiras ou bancos de gelo ser vista cada vez mais como um complemento viável a este modelo.

Violência física

As armas dos conquistadores europeus eram superiores á dos povos indígenas da América. Essa superioridade verificou-se no uso da pólvora, do cavalo e do aço.
Com armas de fogo (mosquete, arcabuz, canhão ), os conquistadores espanhóis e portugueses evitavam o combate corpo a corpo. Além disso, a explosão provocada por essas armas, desconhecidas dos povos indígenas causavam-lhes enorme susto. Também desconheciam –e temiam –os cavalos ,que permitiam aos conquistadores espanhóis grande mobilidade durante os combates. No principio da conquista as indígenas supunham que cavaleiro e cavalo fossem inseparáveis

As armas feitas de aço (espadas, lanças, punhais, escudos, alabardas), por serem resistentes davam aos conquistadores mais recursos de luta. Já as principais armas empregadas pelos indígenas eram arcos, flechas envenenadas pedras, lanças machados e atiradeiras de pedras.


Entretanto somente a superioridade do armamento europeu não explica a vitória dos conquistadores espanhóis e portugueses sobre os nativos americanos, afinal, os indígenas eram numericamente superiores chegando a representar, em certos, combates, cerca de 500 a 1000 índios para cada europeu.

Outro elemento significativo na destruição dos povos indígenas foram as doenças contagiosas, sarampo, coqueluche, varíola, malaria e gripe. Essas doenças, nem sempre transmitida de forma deliberada pelos europeus era ma em geral, letais para os indígenas que na tinham resistência imunológica contra elas. Espalhando-se rapidamente provocavam epidemias matando milhares deles

Os indígenas sofriam duplo impacto ( físico e psicológico ), pois muitas vezes suponham, quando contaminados por doenças que ignoravam e não sabiam combater ,que estavam sendo castigados por seus deuses. Desse modo, entregavam-se ao um sentimento de apatia ( cansaço, derrota )

Alem da violência diretamente cometida pelos europeus, alguns historiadores lembram outro elemento que contribuiu para a conquista: os conflitos internos.

Na América espanhola as relações de diferentes povos caracterizavam-se por muitas vezes pela opressão social. Incas maias e astecas submetiam pela força outros povos vizinhos exigindo pagamento de pesados tributos e prestação de serviços. Esses povos pareceram, ter festejado, a principio, a chegada dos espanhóis e passaram a colaborar com ele na luta contra seus opressores americanos. Na América portuguesa (Brasil) também havia muitos conflitos entre os diferentes povos indígenas os portugueses souberam tirar proveitos desses conflitos, estabelecendo alianças com alguns grupos.


Depopulação devido à doença

"Epidemia de varíola, Códice Florentino".


Os primeiros emigrantes europeus ofereciam duas explicações principais para o declínio populacional dos nativos americanos. A primeira foram as práticas brutais dos conquistadores espanhóis como foi registrado pelos próprios espanhóis, notavelmente pelo frade dominicano Bartolomé de Las Casas, cujos escritos retratam vividamente as atrocidades cometidas para com os nativos (em particular os Tainos) pelos espanhóis. A segunda explicação era uma aparente aprovação divina, segundo a qual Deus tinha removido os nativos como parte do seu plano divino com o objetivo de dar espaço para uma nova civilização cristã. Muitos nativos americanos viam os seus problemas em termos de causas sobrenaturais ou religiosas. Os acadêmicos acreditam agora que, entre vários fatores, as doenças epidêmicas foram de longe a maior causa do declínio populacional dos nativos americanos. As doenças começaram a matar imensos números de americanos indígenas pouco depois de os europeus e africanos começarem a chegar ao novo mundo. Uma razão para o fato de o número de mortos ter sido subestimada é que, de acordo com a teoria geralmente aceite, as doenças chegaram antes da emigração européia e mataram grande aparte da população antes de observações européias terem sido feitas. Muitos emigrantes europeus que chegaram após de as epidemias já terem morto números massivos de nativos assumiram que os nativos tinham sido sempre pequenos em número. A escala das epidemias ao longo dos anos foi enorme, matando milhões de pessoas-cerca de 90% da população nas áreas mais atingidas e criando "a maior catástrofe humana da história, provavelmente excedendo mesmo o desastre da Peste Negra que matou um terço da população da Europa entre 1347 e 1351.
A doença mais devastadora foi a varíola, mas outras doenças mortais incluíram o tifo, o sarampo, a gripe, a peste bubônica, a papeira, a febre amarela e a tosse convulsa. América também tinha doenças endêmicas, talvez incluindo um tipo de sífilis particularmente virulento, que cedo se tornou grave no Velho Mundo. (Esta transferência entre o Velho Mundo e o Novo Mundo foi parte de um fenômeno conhecido como "A Troca Colombiana" ou "A Grande Troca". As doenças levadas para o novo mundo provaram ser excepcionalmente mortíferas.
As epidemias tiveram efeitos muito diferentes em diferentes partes da Américas. Os grupos mais vulneráveis foram aqueles que tinham populações relativamente mais baixas. Muitos grupos insulares foram totalmente aniquilados. Os caribes e os arawaks das caraíbas quase deixaram de existir, tal como os Beothuks da Terra Nova. Enquanto que as doenças se propagaram muito rapidamente nos impérios densamente povoados da América Central, as populações mais dispersas da América do Norte assistiram a um contágio mais lento.

Porque foram as doenças tão mortíferas?

Uma doença viral ou bacteriana que mata as suas vítimas antes que estas possam passá-la a outros tende a entrar em erupção e depois morrer, como um fogo sem combustível. Uma doença mais mortífera estabeleceria um equilíbrio, vivendo as suas vítimas muito para lá da infecção para espalhar mais a doença. Esta função do processo evolucionário seleciona contra a rápida mortalidade, com as doenças mais rapidamente mortais sendo as de vida mais curta. Uma pressão evolucionária semelhante ocorre nas populações das vítimas, uma vez que as que não têm resistência genética a doenças comuns morrem sem descendentes, enquanto que aqueles que são resistentes procriam e passam os genes resistentes aos descendentes.

Outras formas de violência

Os europeus impuseram aos povos americanos costumes que afetaram profundamente a sobrevivência de suas comunidades.

Na América espanhola e na América portuguesa, populações indígenas inteiras foram removidas de suas regiões de origem para trabalhar como escravos para os conquistadores. Fora de seu meio natural, sofreram com as mudanças no tipo de alimentação e no tipo de trabalho. A organização social e produtiva indígena foi desestruturada.

O ato simbólico de fincar a cruz católica na América, marcando a posse da terra em nome dos reis europeus, assinalava também o início da conquista cultural dos indígenas.


De modo geral religiosos e conquistadores associavam-se para dominar os povos indígenas. A ação evangelizadora católica (a convenção aos evangelhos por meio da pregação por religiosos) centrou-se na catequese (ensino religioso católico romano), o batismo das crianças, em sua educação cristã e na convenção dos líderes indígenas.


Para tornar mais eficientes seus esforços de conversão junto aos indígenas os jesuítas criaram aldeamentos, a partir de 1550 na América portuguesa segundo os padres esses aldeamentos também tinham a finalidade de proteger os índios da escravização promovida pelos os colonos.
A vida nas aldeias jesuíticas causou profundas modificações na organização sociais e na vida espiritual dos índios. Eles eram forçados a abandonar os deslocamentos temporários a que estavam habituados para se ficassem nos aldeamentos, onde aprendiam a doutrina católica eram batizados ganhavam nomes cristãos e eram colocados a disposição da coroa e dos colonos para prestar serviços. Entretanto, esses aldeamentos proporcionaram também o reagrupamento de sociedades fragmentadas e o resgate de identidades ameaçadas. As freqüentes fugas individuais e coletivas as revoltas esporádicas e principalmente, a resistência ao trabalho imposto pelos colonizadores caracterizaram a reação indígenas ao aldeamento

Diante da dificuldade de convencer o indígena adulto a aceitar a nova doutrina religiosa os quadros dedicavam-se principalmente, á crianças. Empenhavam-se na fundação de colégios de meninos, onde eram ensinados os valores europeus e as crenças católicas.


Transformações na vida européia

A conquista da América aprofundou as transformações que vinham ocorrendo na vida européia desde antes de 1492 e gerou novas mudanças.
Os grandes comerciantes e banqueiros europeus obtiveram lucros expressivos coma conquista e a colonização do continente americano. O eixo econômico da Europa, antes concentrado no mar Mediterrâneo, deslocou-se para os portos do Oceano Atlântico, como Lisboa, Sevilha e Cádiz, que mantinham comércio direto com os territórios conquistadores na África e na América.
Os países que promoveram a expansão comercial-marítima, nos séculos XV e XVI, tornaram se poderosos na Europa. Pelo pioneirismo, destacaram-se Portugal e Espanha; posteriormente, sobressaíram França, Inglaterra e Holanda. Disputando novos mercados, onde poderiam obter lucros e riquezas, os comerciantes desses países entraram num período de grande concorrência.
Além disso, a conquista e a exploração da América impulsionaram vários setores da cultura européia. Para as longas viagens marítimas, novos conhecimentos e técnicas precisaram ser desenvolvidos e aperfeiçoados. Houve ainda, na Europa, um processo de difusão de conhecimentos adquiridos no contato com os povos indígenas.



As informações aqui contidas foram retiradas dos sites:
www.wikipédia.org
www.suapesquisa.com
http://blogs.myspace.com
Informações também foram retiradas do livro:
História Global - Brasil e geral
De: Gilberto Cotrim



Nomes: Kathleen Duarte Borges de Oliveira nº 20
Talissa Marques nº 34
Fernanda Gama nº 11
José Victor Fernandes Rodrigues nº 17
Thiago Sacoman nº 38
Jardel Leandro Siqueira Mendes nº 16

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Administração portuguesa e igreja católica

   As capitanias foram uma forma de administração territorial do império português uma vez que a Coroa, com recursos limitados, delegou a tarefa de colonização e exploração de determinadas áreas a particulares, através da doação de lotes de terra, sistema utilizado inicialmente com sucesso na exploração das ilhas atlânticas. No Brasil este sistema ficou conhecido como capitanias hereditárias, tendo vigorado, sob diversas formas, durante o período colonial, do início do século XVI até ao século XVIII, quando o sistema de hereditariedade foi extinto pelo Marquês de Pombal, em 1759 (a hereditariedade foi abolida, mas a denominação capitania não).

   Essas capitanias penas acontecia, quando era nomeado um donatário,ele era a autoridade máxima dentro da capitania,era um cargo passado a descendentes,apos sua morte.
Os vínculos jurídico que o donatário havia com o rei de Portugal era estabelecido em dois documentos. Carta de Doação, que conferia a posse, e a Carta Foral que determinava direitos e deveres.


   Carta de doação-
Pela primeira, o donatário recebia a posse da terra, podendo transmiti-la aos filhos, mas não vendê-la. Recebia também uma sesmaria de dez léguas de costa. Devia fundar vilas,distribuir terras a quem desejasse cultivá-las, construir engenhos. O donatário exercia plena autoridade no campo judicial e administrativo para nomear funcionários e aplicar a justiça, podendo até decretar a pena de morte para escravos, índios e homens livres. Adquiria alguns direitos: isenção de taxas, venda de escravos índios e recebimento de parte das rendas devidas à Coroa. Podia escravizar os indígenas, obrigando-os a trabalhar na lavoura ou enviá-los como escravos a Portugal até o limite de 30 por ano.

   Carta foral-
tratava, principalmente, dos tributos a serem pagos pelos colonos. Definia ainda, o que pertencia à Coroa e ao donatário. Se descobertos metais e pedras preciosas, 20% seriam da Coroa e, ao donatário caberiam 10% dos produtos do solo. A Coroa detinha o monopólio do comércio do pau-brasil e de especiarias. O donatário podia doar sesmarias aos cristãos que pudessem colonizá-las e defendê-las, tornando-se assim colonos,deveriam enviar até 30 índios escravizados à Portugal,por meio da guerra justa,pegar aqueles índios considerados inimigos e obriga-los a trabalhar nas lavouras.

   Capitanias Hereditárias:







   É costume afirmar-se que o sistema de capitanias hereditárias fracassou no Brasil, diante da constatação de que apenas a Capitania de Pernambuco e a de São Vicente lograram alcançar relativa prosperidade nas décadas seguintes. Em ambas, havia prosperado a lavoura de cana-de-açúcar e, apesar dos problemas comuns às demais capitanias, os respectivos donatários, Duarte Coelho e os representantes de Martim Afonso de Sousa, conseguiram manter os seus colonos e estabelecer alianças com os indígenas.
   O insucesso das demais, certamente atrasou o desenvolvimento da terra. As dificuldades eram maiores do que os donatários podiam calcular. Muitos donatários nem chegaram a tomar posse das suas terras. Entre as causas para tal, relacionam-se:
• a difícil a adaptação às condições climáticas e a um tipo de vida diferente do existente na Europa;
• o alto custo do investimento, que não trazia um retorno imediato;
• a falta de recursos humanos, por parte dos donatários, para desenvolver os lotes;
• os ataques das tribos indígenas e de corsários estrangeiros, assim como as disputas internas e dificuldades na aplicação da Justiça;
• a falta de comunicação e de articulação entre as diversas capitanias pelas enormes distâncias entre si, e entre elas e a metrópole;
• a ausência de uma autoridade central (governo) que amparasse localmente as Capitanias, referente à economia, justiça e segurança.
• a falsa idéia de que os índios praticavam antropofagia (canibalismo).
Mesmo assim, o sistema de capitanias cumpriu os objetivos ao preservar a posse da terra para Portugal.

   Com a finalidade de "dar favor e ajuda" aos donatários e centralizar administrativamente a organização da Colônia, o rei de Portugal resolveu criar, em 1548, o Governo Geral.
   Um Regimento instituiu o Governo Geral. O documento detalhava as funções do novo representante do governo português na Colônia. O governador geral passou a assumir muitas funções antes desempenhadas pelos donatários. A partir de 1720 os governadores receberam o título de vice-rei. O Governo Geral permaneceu até a vinda da família real para o Brasil, em 1808.
    Tomé de Sousa, o primeiro governador do Brasil, chegou em 1549 e fundou a cidade de Salvador, a primeira da Colônia. Trouxe três ajudantes para ocupar os cargos de: provedor - mor, encarregado das finanças; ouvidor - geral, a maior autoridade da justiça; e o de capitão - mor da costa, encarregado da defesa do litoral. Vieram também padres jesuítas chefiados por Manuel da Nóbrega, encarregados da catequese dos indígenas e de consolidar, através da fé, o domínio do território pela Coroa portuguesa.
   O controle da aplicação da justiça e a expansão da fé cristã, ações atribuídas ao Governo Geral, eram expressivas em relação ao momento pelo qual passavam as monarquias européias: o absolutismo e os movimentos decorrentes do surgimento do protestantismo.
   Em 1551, no governo de Tomé de Sousa, foi criado o 1º Bispado do Brasil com sede na capitania real, sendo nomeado bispo D. Pero Fernandes Sardinha. Foram também instaladas as Câmaras Municipais, compostas pelos "homens bons": donos de terras, membros das milícias e do clero. Nesse período ainda foi introduzida, nessa capitania, a criação de gado e instalados engenhos. Com essas medidas o governo português pretendia reafirmar a soberania e a autoridade da Metrópole, e consolidar o processo de colonização.
   Foi ainda no período do governo de Tomé de Sousa que chegou ao Brasil um considerável número de artesãos. De início trabalharam na construção da cidade de Salvador e, depois, na instalação de engenhos na região. Eles eram mão - de - obra especializada tão necessária na Colônia que a Coroa lhes ofereceu, caso viessem para o Brasil, isenção de pagamento do dízimo pelo mesmo prazo dado aos colonos.
    Os governadores seguintes, Duarte da Costa (1553 - 1557) e Mem de Sá (1557 - 1572), reforçaram a defesa das capitanias, fizeram explorações de reconhecimento da terra e tomaram outras medidas no sentido de reafirmar e garantir a colonização. Mas enfrentaram grandes dificuldades: choques com índios e com invasores, especialmente os franceses; conflitos com o bispo, e com os próprios jesuítas que se opunham à escravidão indígena, e entre antigos e novos colonos.

   Administração colonial

Após a tentativa fracassada de estabelecer as capitanias hereditárias, a coroa portuguesa estabeleceu no Brasil um Governo-Geral como forma de centralizar a administração, tendo mais controle da colônia. As capitanias hereditárias fracassadas foram transformadas em capitanias gerais.

   O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, que recebeu a missão de combater os indígenas rebeldes, aumentar a produção agrícola no Brasil, defender o território e procurar jazidas de ouro e prata.
   Também começavam a existir câmaras municipais, órgãos políticos compostos pelos "homens-bons". Estes eram os ricos proprietários que definiam os rumos políticos das vilas e cidades. O povo não podia participar da vida pública nesta fase.
   As instituições municipais eram compostas por um alcaide que tinha funções administrativas e judiciais, juizes ordinários, vereadores, almotacés e os homens bons.
  As juntas do povo decidiam sobre diversos assuntos da Capitania
  A capital do Brasil neste período foi Salvador, pois a região Nordeste era a mais desenvolvida e rica do país.


   Catolicismo

Com os descobrimentos ultramarinos, a Igreja Católica do Renascimento estava demasiadamente imersa nos problemas seculares para promover uma expansão missionário tão grandiosa como a que se exigia.        Tornava-se igualmente irrealizável deixar nas mãos dos colonos a conversão do gentio. Possibilidade que se aventou, mas que logo foi abandonada, uma vez que o trabalho apostólico, por mais que se quisesse, representava sempre uma limitação aos propósitos predatórios e mercantis daqueles que viam o indígena meramente como força de trabalho a ser explorada. Para isso desenvolviam as racionalizações mais arbitrárias. Basta-nos ver o exemplo de Cortês, que pedia ao imperador e ao papa o direito de castigar os da terra que não se submetiam, apresentando-os "como inimigos de nossa santa fé".
Teriam, portanto, que sair da Igreja os esforços para a difusão do Cristianismo no ultramar. Foram as ordens religiosas que se propuseram a esse movimento missionário. Coube à dos franciscanos a precedência sobre todas as outras. As notícias de muitos povos pagãos recém-descobertos despertaram o zelo apostólico entre os frades de toda a Europa, oferecendo-se numerosos deles para predicar o Evangelho aos indígenas. Acorreram à América espanhola imediatamente após a conquista do México e se estenderam a todo o império espanhol no Novo Mundo. Seguiram-se a eles os dominicanos, cuja obra missionária, inspirada num rigorismo ético, chocava-se com a resistência dos colonos espanhóis que se recusavam a ver outra possibilidade no indígena que não fosse a sua exploração no trabalho escravo. Já em 1511 abria-se o conflito entre missionários dominicanos e colonos, com um sermão pronunciado pelo dominicano Antônio de Montesinos. Tendia a missão, enquanto impulso expansivo da Igreja Católica, a exercer uma influência mais além do eclesiástico, atacando um sistema colonial fundado na superposição de uma camada de senhores e na exploração do indígena.
   Não demorou para que alguns discípulos da Companhia de Jesus mostrassem grande interesse em serem enviados ao Novo Mundo. Não contaram, entretanto, com a aquiescência do Papa, a quem o fundador da    Companhia havia jurado obediência absoluta. Consideravam-se mais necessários os trabalhos dos jesuítas dentro da própria Europa, onde tanto havia que fazer, como os teólogos mais qualificados da igreja, para deixá-los dispersarem-se pelas missões na conversão de infiéis. Somente por volta de 1565 vieram os primeiros jesuítas para a América espanhola, numa expedição orientada para combater os huguenotes franceses alojados na Flórida. "Se simplifica em demasia o fato histórico, quando se faz derivar exclusivamente da Contra-reforma a expansão mundial da Igreja Católica da Época Moderna, e igualmente quando se supõe que essa expansão foi desencadeado pelos jesuítas. A revivescência e ativação das forças missionários da cristandade ocorreram na Idade Média tardia, por obra das ordens mendicantes, e a reforma desses institutos monásticos, em fins do século XV e começos do século XVI, reavivou o ardor apostólico em suas comunidades. A Companhia de Jesus não só apareceu mais tarde, senão que primeiro teve que fortalecer-se internamente e superar fortes resistências do governo espanhol, antes de poder cumprir sua grande obra de evangelização ."
   Em Portugal a Companhia de Jesus havia sido favorecido desde 1540, durante o reinado de D. João III, e graças a ele puderam os jesuítas estabelecer-se na América portuguesa sem encontrar os impedimentos colocados aos jesuítas espanhóis por Filipe 11 e pelo Conselho das Índias. Junto com o primeiro governador-geral vieram para o Brasil os primeiros jesuítas: os padres Manuel da Nóbrega, Leonardo Nunes, Antônio Pires, Aspicuela Navarro, Vicente Rodrigues e Diogo Jácome. Nóbrega, que viera à frente dos demais, tornou-se Provincial com a fundação da província jesuítica brasileira, em 1553. Apesar de não ter sido a primeira ordem a aqui se instalar (aos franciscanos coube também no Brasil essa precedência), tomou-se a mais importante e a que maior influência teve na vida colonial brasileira.

   O Sentido das Missões e da Catequese - A ação da Contra-reforma na Europa revestiu-se de dois aspectos principais: procurou por um lado reconquistar pelas armas os territórios protestantes; e por outro, onde a vitória militar lhe permitia, procurou converter as massas protestantes por toda uma série de meios.    Nesse segundo aspecto, visando a reconquistar as almas onde a situação política o permitia, a Igreja romana empregou os métodos mais diversos: multiplicou as dioceses, construiu ou reconstruiu igrejas, sobretudo criou seminários, universidades e colégios, utilizando o fanático devotamente das ordens religiosas. Foram os jesuítas e capuchinhos os agentes por excelência dessa reconquista.
Ligou-se a esse movimento um outro, que vinha há mais tempo, mas que ganhou novo impacto com a reação à Reforma protestante, que pretendia não só a cristianização dos povos do Novo Mundo.

   A religiosidade na formação social brasileira, mostrando a forte influência da igreja católica enquanto instituição de poder durante o período colonial onde as normas oficiais fundiram-se rapidamente com as crenças e práticas populares, num intenso movimento de recriação cultural que deixou marcas permanentes na vida do povo brasileiro.
   A religião e a religiosidade são vistas como expressão cultural de homens e mulheres que em condições específicas, viveram no Brasil colonial.
    O estudo da religião e da religiosidade é fundamental para a compreensão da história do Brasil, além de ser um tema de grande importância para estudiosos de história de todo o mundo.
    Aliada ao reino português, a Igreja católica lançou-se à tarefa da colonização do Brasil com tanta eficácia, que se transformou numa das mais sólidas e rígidas instituições do país. Com os jesuítas catequizou e com a Inquisição policiou, mas apesar de sua forte influência, teve de aprender a conviver com outras religiões e com outras formas de religiosidade. Dividir e trocar foram regras impostas pela convivência de séculos entre seres humanos diversos nas suas identidades.

-  Nomes:  Bruna Bagliano ,Camila ,Maria Clara Vieira ,Murilo Henrique ,Nathália Almeida e MaxLeandro.

Mercantilismo

Mercantilismo
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Quadro de Claude Lorrain que representa um porto de mar francês de 1638, no momento fundamental do mercantilismo.
Mercantilismo é o nome dado a um conjunto de práticas econômicas desenvolvido na Europa na Idade Moderna, entre o século XV e o final do século XVIII. O mercantilismo originou um conjunto de medidas econômicas diversas de acordo com os Estados. Caracterizou-se por uma forte ingerência do Estado na economia. Consistiu numa série de medidas tendentes a unificar o mercado interno e teve como finalidade a formação de fortes Estados-nacionais.
É possível distinguir três modelos principais: bulionismo ou metalismo, colbertismo ou balança comercial favorável e mercantilismo comercial e marítimo.
Segundo Hunt, o mercantilismo originou-se no período em que a Europa estava a passar por uma grave escassez de ouro e prata, não tendo, portanto, dinheiro suficiente para atender ao volume crescente do comércio.[1]
As políticas mercantilistas partilhavam a crença de que a riqueza de uma nação residia na acumulação de metais preciosos (ouro e prata), advogando que estes se atrairiam através do incremento das exportações e da restrição das importações (procura de uma balança comercial favorável). Essa crença é conhecida como bulionismo ou metalismo.
O Estado desempenha um papel intervencionista na economia, implantando novas indústrias protegidas pelo aumento dos direitos alfandegários sobre as importações, (protecionismo), controlando os consumos internos de determinados produtos, melhorando as infra-estruturas e promovendo a colonização de novos territórios (monopólio), entendidos como forma de garantir o acesso a matérias-primas e o escoamento de produtos manufaturados. A forte regulamentação da economia pelo mercantilismo será contestada na segunda metade do século XVIII por François Quesnay e pelo movimento dos fisiocratas.
O mercantilismo é um conjunto de ideias econômicas que considera a prosperidade de uma nação ou Estado dependente do capital que possa ter. Os socorristas mercantilistas preconizam o desenvolvimento econômico por meio do enriquecimento das nações graças ao comércio exterior, o que permite encontrar saída aos excedentes da produção. O Estado adquire um papel primordial no desenvolvimento da riqueza nacional, ao adotar políticas protecionistas, e em particular estabelecendo barreiras tarifárias e medidas de apoio à exportação.
Os princípios do mercantilismo podem ser resumidos como segue:
Metalismo ou Ditalionismo
O capital é representado pelos metais preciosos que o Estado tem no seu poder. Procurava-se com essa crença evitar a saída de metais preciosos do país. Mais tarde surgiriam outras escolas como o colbertismo (ou "mercantilismo francês") que se inclina para a industrialização; e o comercialismo (ou "mercantilismo britânico") que vê no comércio exterior a fonte da riqueza de um país.
Incentivos às manufaturas
O governo estimulava o desenvolvimento de manufaturas em seus territórios. Como o produto manufaturado era mais caro do que as matérias-primas ou gêneros agrícolas, sua exportação era certeza de bons lucros.
Protecionismo alfandegário
O governo de uma nação deve aplicar uma política protecionista sobre a sua economia, favorecendo a exportação e desfavorecendo a importação, sobretudo mediante a imposição de tarifas alfandegárias. Incentiva-se, portanto, a balança comercial positiva com outras nações. Eram criados impostos e taxas para evitar ao máximo a entrada de produtos vindos do exterior. Era uma forma de estimular a indústria e manufaturas nacionais e também evitar a saída de moedas para outros países.
Balança comercial favorável
O esforço era para exportar mais do que importar, desta forma entraria mais moedas do que sairia, deixando o país em boa situação financeira.
Soma zero
Acredita que o volume global do comércio mundial é inalterável. Os mercantilistas viam o sistema econômico como um jogo de soma zero, no qual o lucro de uma das partes implica a perda da outra.
Sistema colonial
As colônias europeias deveriam fazer comércio apenas com suas metrópoles. Era uma garantia de vender caro e comprar barato, obtendo ainda produtos não encontrados na Europa. Dentro deste contexto histórico ocorreu o ciclo econômico do açúcar no Brasil Colonial.
Colônias de exploração
A riqueza de um país está diretamente ligada à quantidade de colônias de exploração deste. Internacionalmente, o mercantilismo indiretamente impulsionou muitas das guerras europeias do período e serviu como causa e fundamento do imperialismo europeu, dado que as grandes potências da Europa lutavam pelo controlo dos mercados disponíveis no mundo. Sob este aspecto, vale salientar que, nas expansões marítimas e comerciais das nações, invadir um caminho percorrido constantemente por um, não poderia ser feito por outro, como no caso da procura pelas Índias Ocidentais. Isto perdurou até que, após o descobrimento da América a Inglaterra decidiu "trilhar" o seu caminho. Portugal e Espanha se mostraram insatisfeitos com o fato, fazendo o rei inglês dizer a célebre frase:
O sol brilha para todos! E eu desconheço a cláusula do testamento de Adão que dividiu a terra entre portugueses e espanhóis". Assim, a esquadra inglesa toma seu lugar ao sol.

Comércio colonial monopolizado pela metrópole
As colônias deviam comercializar exclusivamente com suas respectivas metrópoles[2]◘


Jakob Fugger "o rico", pintado por Albrecht Dürer (1519), logo quando estava a negociar o empréstimo a Carlos I da Espanha para lhe permitir financiar os quantiosos subornos da sua eleição imperial e tornar-se assim em Carlos V da Alemanha. Os impostos com os quais pensava devolver o crédito provocaram a Guerra das Comunidades de Castela. Pouco antes, as manobras teológico-financeiras do papado provocaram, também na Alemanha, a Reforma luterana. Resulta compreensível que na época se entendesse a economia como algo explicável desde um ponto de vista secular, não unicamente religioso, um jogo de soma zero, em que somente se ganha o que perde outrem, e estreitamente vinculado ao poder político.
O mercantilismo enquadra-se na Idade da Dita, com a progressiva autonomia da economia frente à moral e a religião bem como frente à política. Esta enorme ruptura realizar-se-á por meio de conselheiros dos governantes e pelos comerciantes.[3] Esta nova disciplina chegará a ser uma verdadeira ciência econômica com a fisiocracia. Entre os muitos autores mercantilistas, há que destacar a Martín de Azpilicueta (1492-1586), Tomás de Mercado (1525-1575), Jean Bodin (1530–1596), Antoine de Montchrétien (1576–1621), ou William Petty (1623–1687).
O mercantilismo foi a teoria predominante ao longo de toda a Idade Moderna (do século XVI ao XVIII), época que aproximadamente indica o surgimento da ideia do Estado-nação e a formação econômico social conhecida como Antigo Regime na Europa Ocidental.
O mercantilismo como tal não é uma corrente de pensamento. Marca o final da proeminência da ideologia econômica do cristianismo (a crematística), inspirada em Aristóteles e Platão, que recusava a acumulação de riquezas e os empréstimos com interesse (vinculados ao pecado da usura). Esta nova corrente econômica surge numa época que os reis desejavam possuir o máximo de ouro possível. As teorias mercantilistas buscavam esse objetivo e desenvolviam uma problemática baseada no enriquecimento. Esta corrente baseia-se num sistema de análise simplificada dos fluxos econômicos, na que, por exemplo, não se leva em conta o papel que joga o sistema social.
Como agente unificador tendente à criação de um Estado nacional soberano, o mercantilismo teve-se contra duas forças: Uma, mais espiritual e jurídica do que política-econômica, foram os poderes universais: a Igreja e o Sacro Império Romano Germânico, a outra, de caráter predominantemente econômico foi o particularismo local, com a dificuldade que produz para as comunicações e a sobrevivência da economia natural (em determinadas zonas a renda do Estado eram em espécie e não em dinheiro); enquanto a pretensão mercantilista é que o mercado fechado seja substituído pelo mercado nacional e as mercadorias como medida de valor e meio de câmbio sejam substituídas pelo ouro. O mercantilismo vê a intervenção do Estado como o meio mais eficaz para o desenvolvimento econômico.
Outra tendência do mercantilismo era robustecer para o exterior o poder do Estado, subordinando a atividade econômica para esse objetivo, e interessando-se pela riqueza enquanto sirva de base para ela. O liberalismo considerará à riqueza como preciosa para o indivíduo e, portanto, digna de ser atingida como fim em si mesmo: se o particular não deve pensar mais que enriquecer-se, é um feito puramente natural e involuntário que a riqueza dos cidadãos contribuía para aumentar a riqueza do Estado. Por outro lado, para os mercantilistas, a riqueza privada é simplesmente um meio, e como tal fica subordinado ao Estado e os seus fins de domínio.
A confiança no mercantilismo começou a decair em finais do século XVIII, quando as teorias de Adam Smith e de outros economistas clássicos foram ganhando favor no Império Britânico, e em menor grau no restante da Europa (exceto a Alemanha, onde a Escola Histórica de Economia foi a mais importante durante todo o século XIX e começos do XX). Adam Smith, que o critica com dureza na sua obra "A riqueza das nações", qualifica o mercantilismo como uma "economia ao serviço do Príncipe".
Curiosamente, se bem que tinha sido uma antiga colônia britânica, os Estados Unidos da América não aderiram à economia clássica, senão ao regime econômico que foi chamado "escola americana" (uma forma de neo-mercantilismo) através das políticas de Alexander Hamilton, Henry Clay, Abraham Lincoln e pelo qual mais tarde seriam as práticas econômicas do Partido Republicano, que pela sua vez refletiram-se nas políticas dos historicistas alemães e economistas como Friedrich List. Isto durou até ao surgimento do New Deal após a crise de 1929.
Atualmente a teoria do mercantilismo é recusada pela maioria dos economistas, se bem que alguns dos seus elementos sejam ocasionalmente vistos de modo positivo por alguns, entre os quais cabe citar a Ravi Batra, Pat Choate, Eammon Fingleton, ou Michael Lind.[4]
Índice
[esconder]
1 Doutrina econômica mercantilista
1.1 O mercantilismo como conjunto de ideias econômicas
1.2 Interpretação histórica do mercantilismo
1.3 A época mercantilista
1.4 As ideias mercantilistas
1.5 O mercantilismo como processo econômico
2 Políticas mercantilistas
2.1 Na França
2.2 Na Inglaterra
2.3 Na Espanha
2.4 Em Portugal
2.5 Outros países
3 Críticas
4 Legado
4.1 Ideias mercantilistas sobreviventes
4.2 Herança política
5 Notas e referências
5.1 Fontes
5.2 Outras leituras
6 Ver também
7 Ligações externas

Doutrina econômica mercantilista
O mercantilismo como conjunto de ideias econômicas
Quase todos os economistas europeus dentre 1500 e 1750 são considerados atualmente como mercantilistas. Contudo, estes autores não se consideravam partícipes de uma única ideologia econômica, senão que o término foi cunhado por Vitor Riquetti, Marquês de Mirabeau em 1763, e popularizado por Adam Smith em 1776. De fato, Adam Smith foi a primeira pessoa em organizar formalmente muitas das contribuições dos mercantilistas no seu livro A Riqueza das Nações.[5]
O termo Mercantilismo foi criado pelo economista Adam Smith em 1776, a partir da palavra latina mercari, que significa "gerir um comércio", de mercadorias ou produtos. De início foi usado apenas por críticos, como Mirabeau e o próprio Smith, mas foi pronto adotada pelos historiadores.
O mercantilismo em si não pode ser considerado como uma teoria unificada de economia. Na realidade não houve escritores mercantilistas que apresentassem um esquema geral do que seria uma economia ideal, tal qual Adam Smith faria mais adiante para a economia clássica. No seu lugar, o escritor mercantilista tendia a focar a sua atenção numa área específica da economia.[6] Seria após o período mercantilista que os estudiosos posteriores integrariam as diversas ideias no que chamariam mercantilismo, como por exemplo Eli F. Heckscher[7] que vê nos escritos da época ao mesmo tempo um sistema de poder político, um sistema de regulamentação da atividade econômica, um sistema protecionista, bem como um sistema monetário com a teoria da balança comercial. Contudo, alguns teóricos recusam completamente a ideia mesma de uma teoria mercantilista, argumentando que dá "uma falsa unidade a fatos díspares".[8] O historiador do pensamento econômico Mark Blaug faz notar que o mercantilismo foi qualificado posteriormente como "molesta bagagem", "diversão de historiografia", e de "gigantesco globo teórico".[9]
Até certo ponto, a doutrina mercantilista em si mesma fazia impossível a existência de uma teoria geral econômica. Os mercantilistas viam o sistema econômico como um jogo de soma zero, onde a ganância de uma das partes supunha a perda da outra, ou seguindo a famosa máxima de Jean Bodin "não há nada que alguém gane que outrem não perda".[10] Portanto, qualquer sistema de políticas que beneficiassem a um grupo por definição também faria dano a outro ou outros, e não existia a possibilidade de a economia ser empregue para maximizar a riqueza comum, ou o bem comum.[11] Parece que os escritos dos mercantilistas fizeram para justificar a posteriori uma série de práticas, mais do que para avaliar o seu impacto e determinar assim o melhor jeito de levá-las a termo.[12]
O mercantilismo é, portanto, uma doutrina ou política econômica que aparece num período intervencionista e descreve um credo econômico que prevaleceu à época de nascimento do capitalismo, antes da Revolução Industrial.[13]
As primeiras teorias mercantilistas desenvolvidas a princípios do Século XVI estiveram pontuadas pelo bullionismo (do inglês bullion: ouro em lingotes). A esse respeito, Adam Smith escrevia:

A dupla função que cumpre o Dinheiro, como instrumento de comércio e como medida dos valores, fez com que se produza de jeito natural essa ideia popular de que o Dinheiro faz a riqueza, ou que a riqueza consiste na abundância de ouro e prata [...]. Razoa-se do mesmo jeito com referência a um país. Um país rico é aquele no que abunda o dinheiro, e o meio mais simples de enriquecer o seu, é amassar o ouro e a prata [...]. Devido ao crescente sucesso destas ideias, as diferentes nações da Europa dedicaram-se, embora sem sucesso suficiente, a buscar e acumular ouro e prata de todas as maneiras possíveis. Espanha e Portugal, possuidoras das principais minas que provêm à Europa desses metais, proibiram a sua exportação ameaçando com graves represálias, ou submeteram-na a enormes taxas. Esta mesma proibição fez parte da política da maioria das nações da Europa. É encontrada mesmo onde menos se aguardaria, em algumas antigas atas do parlamento da Escócia, que proíbem, sob fortes penas, transportar ouro e prata fora do reino. A mesma política pôs-se em prática na França e na Inglaterra




Thomas Gresham, comerciante e financeiro inglês.
Durante esse período, importantes quantidades de ouro e prata fluíam desde as colônias espanholas do Novo Mundo para a Europa. Para os escritores bullionistas, como Jean Bodin ou Thomas Gresham, a riqueza e o poder do Estado medem-se pela quantidade de ouro que possuem. Cada nação deve, pois, acrescentar as suas reservas de ouro à custa das demais nações para fazer crescer o seu poder. A prosperidade de um Estado mede-se, segundo os bullionistas, pela riqueza acumulada pelo governo, sem mencionar a Renda Nacional. Este interesse para as reservas de ouro e prata é explicado em parte pela importância dessas matérias-primas na época de guerra. Os exércitos, que contavam com muitos mercenários, eram pagos com ouro e exceto os poucos países europeus que controlavam as minas de ouro e prata, a principal maneira de obter essas matérias-primas era o comércio internacional. Se um Estado exportava mais do que importava, a sua "balança do comércio" (o que corresponde atualmente à balança comercial) era excedentária, o qual se traduzia numa entrada neta de dinheiro.
Isto levou os mercantilistas a propor como objetivo econômico o de ter um excedente comercial. Era estritamente proibida a exportação de ouro. Os bullionistas também eram partidários de altas taxas de juros para animar os investidores a investir o seu dinheiro no país.
No Século XVIII foi desenvolvida uma versão mais elaborada das ideias mercantilistas, que recusava a visão simplista do bullionismo. Esses escritores, como Thomas Mun, situavam como principal objetivo o crescimento da riqueza nacional, e embora continuavam considerando que o ouro era a riqueza principal, admitiam que existiam outras fontes de riqueza, como as mercadorias.

(…) não é a grande quantidade de ouro e prata o que constitui a verdadeira riqueza de um Estado, já que no mundo há países muito grandes que contam com abundância de ouro e prata, e que não se encontram mais cômodos, nem são mais felizes [...]. A verdadeira riqueza de um Reino consiste na abundância das Mercancias, cujo uso é tão necessário para o sustento da vida dos homens, que não podem passar delas"

— Vauban[15]

O objetivo de uma balança comercial excedentária continuava a ser perseguido, mas desde esse momento era visto interessante importar mercadorias da Ásia por meio de ouro para revender depois esses bens no mercado europeu com importantes benefícios.

E para deixar a coisa ainda mais clara, quando dizemos [...] que 100.000 livras exportadas em efetivo podem servir para importar o equivalente aproximado de 500.000 livras esterlinas em mercadorias das Índias Orientais, há que entender que a parte dessa soma que pode chamar-se com propriedade a nossa importação, ao ser consumida no reino, tem um valor de umas 120.000 livras esterlinas anuais. De maneira que o resto, é dizer 380.000 livras, é mercadoria exportada ao estrangeiro sob a forma do nossos tecidos, o nosso chumbo, o nosso estanho, ou de qualquer outro produto do nosso país, com grande aumento do patrimônio do reino e isso no tesouro, pelo qual podemos concluir que o comércio das Índias Orientais prove a esse fim.

— Thomas Mun"[16]

Esta nova visão recusava a partir desse momento a exportação de matérias-primas, que uma vez transformadas em bens finais constituíam uma importante fonte de riqueza. Enquanto o bullionismo favorecera a exportação massiva de lã de Grã-Bretanha, a nova geração de mercantilistas apoiava a proibição total de exportar matérias-primas e propugnava o desenvolvimento de indústrias manufatureiras domésticas. Ao precisar as indústrias importantes capitais, no Século XVIII houve uma redução das limitações contra a usura. Como muito bem demonstrou William Petty, a taxa de interesse vê-se como uma compensação pelas moléstias ocasionadas ao prestador ao ficar sem liquidez. Um resultado dessas teorias foi a posta em prática das Navigation Acts a partir de 1651, que deram aos barcos ingleses a exclusiva nas relações entre Grã-Bretanha e as suas colônias, proibindo aos holandeses o acesso a certos portos para restringir a expansão dos Países Baixos.
As consequências em matéria de política interior das teorias mercantilistas estavam muito mais fragmentadas do que os seus aspetos de política comercial. Enquanto Adam Smith dizia que o mercantilismo apelava a controles muito estritos da economia, os mercantilistas não concordavam entre si. Alguns propugnavam a criação de monopólios e outras cartas patentes. Mas outros criticavam o risco de corrupção e de ineficácia de tais sistemas. Muitos mercantilistas também reconheciam que a instauração de quotas e de controlo dos preços propiciava o mercado negro.
Por outro lado, a maior parte dos teóricos mercantilistas estavam de acordo na opressão econômica dos operários e agricultores que deviam viver com uma renda perto do nível de sobrevivência, para maximizar a produção. Uma maior renda, tempo de lazer suplementar ou uma melhor educação dessas populações contribuiriam para favorecer a folgança e prejudicariam a economia.[17] Esses pensadores viam uma dupla vantagem no fato de dispor de abundante mão-de-obra: as indústrias desenvolvidas nessa época precisavam de muita mão-de-obra e, ademais, isso reforçava o potencial militar do país. Os salários eram mantidos, portanto, em um baixo nível para incitar a trabalhar. As leis de pobres (Poor Laws) em Inglaterra perseguem os vagamundos e fazem obrigatório o trabalho. O ministro Colbert fará trabalhar as crianças com seis anos nas manufaturas do Estado.
A reflexão sobre a pobreza e o seu papel social na Idade Moderna cobrou importância, sobretudo após a Reforma Protestante e os diferentes papéis que à predestinação e o triunfo pessoal davam a teologia de Lutero, Calvino ou a Contra-reforma. A opinião católica tradicional associava-se ao mantimento do Antigo Regime, sancionando o lazer dos privilegiados e considerando a condenação do trabalho como um castigo divino, enquanto as sociedades onde triunfou o protestantismo pareciam adequar-se mais aos novos valores burgueses.[18] Tradicionalmente os pobres eram vistos como os mais próximos a Deus, e as instituições de caridade não se viam como meios de erradicar a pobreza, senão de paliar os seus efeitos. Porém, entre os católicos também se inclui a obra de Juan Luis Vives De subventione pauperum. Sive de humanis necessitatibus libri II (Os dois livros da subvenção aos pobres ou da necessidade humana. Bruxas, 1525), que trata o problema da mendicidade procurando soluções nas instituições públicas, que devem socorrer os verdadeiros pobres e fazer trabalhar aos que somente são vagos; para isso considerava precisa uma organização da beneficência e uma reforma do sistema sanitário, de asilo. Seguindo as suas ideias foi organizada a atuação contra a pobreza na cidade de Bruxas.
Interpretação histórica do mercantilismo
Em efeito, não se pode falar de uma escola mercantilista, pois, para poder falar de uma escola deve existir uma série de características como a presença de um mestre que crie um pensamento que seja seguido pelos membros da escola, além de homogeneidade no pensamento. Assim, por exemplo, podemos falar da Escola Clássica com Adam Smith como epicentro do pensamento, ou seja, como mestre, e a afinidade entre os diferentes autores da mesma. No caso do pensamento chamado mercantilista não encontramos nenhum dos atributos necessários para identificá-lo com uma escola de pensamento.
O mercantilismo teve diversas interpretações ao longo do tempo. Desde Adam Smith até o presente sucedem-se explicações do que foram e significaram todos estes autores chamados mercantilistas. John Maynard Keynes, Gustav Schmoller, William Cunningham e o já mencionado Adam Smith, entre muitos outros, achegaram a sua perspectiva do mercantilismo. É sinalado particularmente Eli Heckscher que, influenciado pelos três últimos autores mencionados, reúne as interpretações destes para logo acrescentar a sua. Fala do mercantilismo do ponto de vista da sua política protecionista e as suas atitudes monetárias (como já refere Smith), como uma doutrina na construção do Estado (recolhido de Schmoller), como um sistema de poder (propugnado por Cunningham) e acrescenta a sua tese a estas quatro: descreve o mercantilismo como uma concepção social que quebrou com as formas, tanto morais quanto religiosas, que determinavam o comportamento dos agentes econômicos.
Destaca-se Cantillon entre os autores que acreditam que o mercantilismo é a antecipação da doutrina clássica. Este autor, entre o pensamento mercantilista e clássico, aperfeiçoa o conceito de "balança de comércio" em termos de trabalho. Desta óptica é levado em conta o aumento do emprego como término positivo nas ganâncias da balança comercial. Assim, pois, Cantillon, advoga por medidas de estabilidade dos preços e impedir a sua subida (pela acumulação do dinheiro) e, em consequência, a sobrevivência de um nível alto de emprego
A época mercantilista
O conceito de mercantilismo define-se a partir dos grandes descobrimentos, consequência da apertura das rotas comerciais marítimas pelos portugueses entre o século XV e 1500 (data do descobrimento do Brasil) e a consolidada corrente do metal precioso (ouro e prata nomeadamente) levado dos territórios novos para a Europa, em particular depois do estabelecimento dos vice-reinos da Nova Espanha e do Peru pelos castelhanos.
Intimamente ligado à emergência do Estado-nação moderno e baseado na existência do binômio "metrópole – colônias", o mercantilismo assumiu formas nacionais, das quais podem citar-se, em ordem cronológica: Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda, França, Dinamarca e Suécia durante os séculos XVI, XVII e XVIII. Nesta época, o mercantilismo evolui de tal maneira que gera um estudo apropriado e traduz-se como uma atividade econômica, em tal grau que se fala de políticas econômicas e normas econômicas. O mercantilismo começa a ser conhecido com outras denominações, as mesmas que dão senso ao seu conceito: sistema mercantil, sistema restritivo, sistema comercial, Colbertismo na França e Cameralismo na Alemanha.
Derivado da expansão militar europeia e do incipiente desenvolvimento manufatureiro, como complemento da produção clássica da agricultura, o mercantilismo incrementou notavelmente o comércio internacional. Os mercantilistas foram os primeiros em identificar a importância monetária e política deste.
O mercantilismo desenvolveu-se numa época na que a economia europeia estava em transição do feudalismo ao capitalismo. As monarquias feudais medievais estavam sendo substituídas pelas novas nações-estado centralizadas, em forma de monarquias absolutas ou (em Inglaterra e Holanda) parlamentares. Os câmbios tecnológicos na navegação e o crescimento dos núcleos urbanos também contribuíram decisivamente ao rápido acréscimo do comércio internacional.[19] O mercantilismo focava em como este comércio podia ajudar melhor os Estados.
Outro câmbio importante foi a introdução da contabilidade moderna e as técnicas de dupla entrada. A nova contabilidade permitia levar um claro seguimento do comércio, contribuindo para a possibilidade de fiscalizar a balança de comércio.[20] E evidentemente, também não se pode ignorar o impacto do descobrimento da América. Os novos mercados e minas descobertas impulsionaram o comércio exterior a cifras até não concebidas. Isto levou a um grande acréscimo dos preços e a um acréscimo na própria atividade comercial.[21] Curiosamente, a relação entre a chegada de metais preciosos americanos e a inflação europeia do século XVI (um fenômeno a uma escala até então desconhecida) não foi plenamente estabelecido até as pesquisas de Earl J. Hamilton numa data tão tardia quanto 1934 (O tesouro americano e a revolução dos preços na Espanha, 1501-1650).
Antes do mercantilismo, os estudos econômicos mais importantes realizados na Europa foram as teorias da Escolástica medieval. O objetivo destes pensadores era encontrar um sistema econômico que fosse compatível com as doutrinas cristãs com respeito da piedade e a justiça. Eram focados nomeadamente nas questões microeconômicas e os intercâmbios locais entre indivíduos. O mercantilismo, pela sua vez, estava alinhado com as outras teorias e ideias que estavam substituindo o ponto de vista medieval.
Nesta época foram adotadas também as teorias da Realpolitik impulsionadas por Nicolau Maquiavel e a primazia do interesse nacional nas relações internacionais. A ideia mercantilista de o comércio ser uma soma zero na qual cada parte fazia o possível para ganhar numa dura competência, integrava-se dentro das teorias filosóficas de Thomas Hobbes. Os jogos de soma zero como o dilema do prisioneiro podem ser consistentes com um ponto de vista mercantilista. No mencionado dilema os jogadores são premiados por atraiçoar os seus companheiros/oponentes, embora todo o mundo estivesse melhor se todos cooperassem.
Esse ponto de vista pessimista sobre a natureza humana também encaixa com a mentalidade do puritanismo na sua concepção do mundo, que inspirou parte da legislação mercantilista mais dura, como as Atas de Navegação (Navigation Acts) introduzidas pelo governo de Oliver Cromwell.[22]
As ideias mercantilistas
O pensamento mercantilista pode ser sintetizado através das nove regras de Von Hornick:[23]
Que cada polegada do chão de um país seja utilizada para a agricultura, a mineração ou as manufaturas.
Que todas as primeiras matérias que se encontrem num país sejam utilizadas nas manufaturas nacionais, porque os bens acabados têm um valor maior que as matérias-primas
Que seja fomentada uma população grande e trabalhadora.
Que sejam proibidas todas as exportações de ouro e prata e que todo o dinheiro nacional seja mantido em circulação.
Que seja obstaculizado tanto quanto for possível todas as importações de bens estrangeiros
Que onde sejam indispensáveis determinadas importações devam ser obtidas de primeira mão, em troca de outros bens nacionais, e não de ouro e prata.
Que na medida em que for possível, as importações sejam limitadas às primeiras matérias que possam acabar-se no país.
Que sejam procuradas constantemente as oportunidades para vender o excedente de manufaturas de um país aos estrangeiros, na medida necessária, em troca de ouro e prata.
Que não seja permitida nenhuma importação se os bens que se importam existissem suficiente e adequadamente no país.
Contudo, a política econômica interna que defende o mercantilismo estava ainda mais fragmentada do que a internacional. Enquanto Adam Smith apresentava um mercantilismo que apoiava o controlo estrito da economia, muitos mercantilistas não se identificavam com tais ideias. Durante os começos da era moderna estava na ordem do dia o uso das patentes reais e a imposição governamental de monopólios. Alguns mercantilistas apoiavam-nos, enquanto outros viam a corrupção e ineficiência desses sistemas.
Um dos elementos nos quais os mercantilistas estavam de acordo era a opressão econômica dos trabalhadores. Os assalariados e os granjeiros deviam viver nas "margens de subsistência". O objetivo era maximizar a produção, sem nenhum tipo de atenção sobre o consumo. O fato de as classes mais baixas terem mais dinheiro, tempo de lazer, ou educação era visto como um problema que degeneraria em poucas ganhas de trabalhar, danando a economia do país.[24]
Por outro lado, os estudiosos não se põem de acordo no motivo pelo qual o mercantilismo foi a ideologia ou teoria econômica dominante durante dois séculos e meio.[25] Um grupo, representado por Jacob Viner, argumenta que o mercantilismo foi simplesmente um sistema muito direto e que contava com senso comum. Contudo, sustentava-se sobre uma série de falácias lógicas que não podiam ser descobertas pelas pessoas da época, dado que não tinham as ferramentas analíticas necessárias. Outra escola, apoiada por economistas como Robert B. Ekelund, entende que o mercantilismo não era um erro, mas o melhor sistema possível para aqueles que o desenvolveram. Esta escola argumenta que as políticas mercantilistas foram desenvolvidas e postas em prática por comerciantes e governos, cujo objetivo era incrementar ao máximo os benefícios empresariais. Os empresários beneficiavam-se enormemente, e sem que isso lhes supusesse um esforço, pela imposição de monopólios, as proibições às importações e a pobreza dos trabalhadores. Os governos, pela sua vez, beneficiavam-se do cobro das tarifas alfandegárias e os pagamentos dos mercadores. Se bem que as ideias econômicas mais tardias foram desenvolvidas com freqüência por acadêmicos e filósofos, quase todos os escritores mercantilistas eram comerciantes ou pessoas com cargos no governo.[26]
O mercantilismo como processo econômico
Dentro da doutrina econômica mercantilista emergiram, de maneira natural, três questões fundamentais que gerava esta lucrativa atividade comercial:
O monopólio da exportação.
O problema dos câmbios e a sua derivação.
O problema da balança comercial.
Na obra The Circle of Commerce (O círculo do comércio, 1623), Edward Misselden desenvolveu um conceito de balança comercial expressado em termos de débitos e créditos, apresentando o cálculo da balança comercial para a Inglaterra do dia de Natal de 1621 até o de 1622.
A ideia mercantilista de "balança de comércio multilateral" corresponde à atual noção de "balança de pagamentos" e é composta de cinco contas:
Balança de comércio multilateral
Conta corrente (=balança comercial)
Mercadorias (A)
Invisíveis (fretes, seguros, etc.) (A)
Contas de capital
A curto prazo (C)
A longo prazo (A)
Transferências unilaterais (doações, ajuda militar, etc.) (A)
Ouro (C)
Erros e Omissões
Políticas mercantilistas
As ideias mercantilistas foram a ideologia econômica dominante em toda Europa a princípio da Idade Moderna. Contudo, como conjunto de ideias não sistematizadas, a sua aplicação concretiza diferiu na prática de cada país.
Na França ◘


Ministro francês de finanças e mercantilista, Jean-Baptiste Colbert.
Na França, o mercantilismo nasce a princípios do Século XVI, pouco tempo depois do reforço da monarquia. Em 1539, um real decreto proíbe a importação de mercadorias têxteis de lã provenientes da Espanha e de uma parte de Flandres. O ano seguinte são impostas restrições à exportação de ouro.[27] Multiplicam-se as medidas protecionistas ao longo do século. Jean-Baptiste Colbert, ministro de finanças durante 22 anos, foi o principal impulsionador das ideias mercantilistas na França, o que fez com que alguns falaram de colbertismo para designar o mercantilismo francês. Com Colbert, o governo francês implicou-se muito na economia para acrescentar as exportações. Colbert eliminou os obstáculos ao comércio ao reduzir as taxas alfandegárias interiores e ao construir uma importante rede de estradas e canais. As políticas desenvolvidas por Colbert em conjunto resultaram eficazes, e permitiram que a indústria e a economia francesas crescessem consideravelmente durante esse período, tornando a França numa das maiores potências europeias. Não teve tanto sucesso à hora de tornar França numa grande potência comercial equiparável à Inglaterra e a Holanda.[28]
Também é característico do colbertismo empreender uma decidida política de criação de Manufaturas Reais que fabricavam produtos estratégicos ou de luxo (os Gobelinos, para tapetes e cristais), em ambos os casos consumíveis em primeiro lugar pela demanda da própria monarquia, ao tempo que produziam a emulação do seu consumo tanto dentro como fora do reino. Tal emulação também se viu na criação de manufaturas similares em outros países europeus, entre os que destacaram as Reales Fábricas espanholas de produtos de luxo,[29] de armas,[30] e de artigos de grande consumo monopolizadas pelo Estado como regalias: tabaco,[31] aguardente, naipes.
Na Inglaterra ◘


William Petty.
Na Inglaterra, o mercantilismo atinge o seu apogeu durante o período chamado do Long Parliament (1640–1660). As políticas mercantilistas também se aplicaram durante os períodos Tudor e Stuart, especialmente com Robert Walpole como principal partidário. O controle do governo sobre a economia doméstica era menor que no restante da Europa, devido à tradição da Common law e o progressivo poder do parlamento.[32]
Os monopólios controlados pelo Estado estenderam-se, especialmente antes da guerra civil inglesa, apesar de serem com frequência questionados. Os autores mercantilistas ingleses estavam divididos com a respeito da necessidade de controlo da economia interior. O mercantilismo inglês adotou a forma de controle do comércio internacional. Foi posto em prática um amplo leque de medidas destinadas a favorecer a exportação e penalizar a importação. Foram instauradas taxas alfandegárias sobre as importações e subvenções à exportação. Foi proibida a exportação de algumas matérias-primas. As Navigation Acts (Ato de Navegação) proibiam aos comerciantes estrangeiros fazer comércio no interior da Inglaterra. Inglaterra aumentou o número de colônias e, uma vez estavam sob controle, eram instauradas regras para autorizar a produzir apenas matérias-primas e a comerciar unicamente com Inglaterra. Isto conduziu a progressivas tensões com os habitantes dessas colônias e foi uma das principais causas da Guerra de Independência dos Estados Unidos.
Estas políticas contribuíram em larga medida a tornar a Inglaterra na maior potência comercial do mundo, e uma potência econômica internacional. No interior, a transformação de terras não cultivadas em terreno agrícola teve um efeito duradouro. Os mercantilistas pensavam que para fazer crescer o poderio de uma nação, todas as terras e recursos deviam ser utilizadas ao máximo, o que levou a se embarcarem em grandes projetos como a drenagem da região dos fens ("pântanos" da planície de Bedford).[33]
Na Espanha


Casa de Contratação, que atualmente cumpre a função de Archivo de Indias, junto à Catedral de Sevilha. Centro econômico do mundo no século XVI, Sevilha afundou-se numa profunda crise no seguinte, enquanto Londres e Amsterdam entravam no seu apogeu.
A revolução dos preços que afetou a toda Europa desde o século XVI, teve a sua origem na chegada a Espanha das remessas anuais de metais preciosos que trazia a frota de Índias, com o que a reflexão sobre as suas causas e possíveis soluções produziu o primeiro pensamento econômico digno de tal nome. A isso era acrescentada a tradição de petições econômicas nas Cortes, tanto as castelhanas quanto as dos reinos da Coroa de Aragão. Castela, desde a Baixa Idade Média presenciara um confronto entre os interesses vinculados à exportação da lã (a aristocrática Mesta, e a alta burguesia de mercadores de Burgos, as [[feira]]s e portos ligados com Flandres) e os vinculados à produção interna de panos (a baixa burguesia e o patriciado urbano das cidades centrais, como Segóvia e Toledo), que se expressaram nas guerras civis dos Trastâmara e mesmo na Guerra das Comunidades de Castela. Esse modelo simplificado não oculta a confluência de múltiplos interesses, tanto pessoais como dinásticos, institucionais e estamentais, como os das diferentes partes do clero, e mesmo a presença de minorias como judeus e conversos e a grande maioria social que é o campesinato.[34] A mesma construção da monarquia autoritária tem muito para ver com a sua habilidade para arbitrar estes conflitos socioeconômicos e a sua dimensão política.[35] A mesma organização do monopólio do comércio americano, através da Casa de Contratação de Sevilha, conjugado com os empréstimos adiantados por banqueiros alemães (família Fugger) ou genoveses, e os mecanismos da dívida pública (juros) dão uma amostra do necessário e complicado que era entender os fenômenos econômicos e agir politicamente sobre eles. Era vital para o funcionamento do complexo aparato militar, burocrático e de Fazenda da Monarquia Hispânica (veja-se Instituições espanholas do Antigo Regime), no que os impostos (uns do rei, outros do reino, outros dos municípios), as múltiplas isenções, e os direitos e regalias do monarca formavam um tecido caótico. ◘


Martín de Azpilicueta.
Os economistas espanhóis dos séculos XVI e XVII[36] eram chamados de arbitristas, por ser chamado de arbítrio a medida que, pela sua mera vontade, podia o rei tomar em benefício do reino, e que esses autores solicitavam. Seu papel foi infra-valorado pela mesma historiografia econômica espanhola nos seus primeiros estudiosos, como é o caso de Manuel Colmeiro.[37] Já na sua própria época eram ridicularizados por propor medidas extravagantes, como o fez Quevedo, que em várias ocasiões descreve bem-intencionados arbitristas ("arcigogolantes") causando toda classe de catástrofes; um de eles está tão concentrado em escrever as suas teorias que não se dá conta de que se tirou a sim mesmo um olho com a caneta.[38] ◘


Zenón de Somodevilla, marquês da Ensenada.
Durante a crise econômica da Espanha no Século XVII (de fato foi a principal afetada pela geral crise do século XVII) puseram-se em prática muitas políticas econômicas com certa incoerência, incluindo alterações monetárias e fiscais que mais que remediar, contribuíram para o seu aprofundamento. O Estado ruinoso de finais desse século, durante o reinado de Carlos II, porém presenciou uma reativação da economia nas zonas periféricas (exceto Andaluzia). Após a Guerra de Sucessão Espanhola (1700-1714), implicou um indubitável sucesso econômico a adoção, pelos governos de Filipe V, de uma série de medidas mercantilistas de inspiração colbertista importadas da França (ministros Jean Orry e Michael-Jean Amelot).
No século XVIII, a herança do arbitrismo mudou para o chamado projectismo ilustrado com maior elevação intelectual. No reinado de Fernando VI as medidas associadas ao Cadastro de Ensenada, muito ambiciosas, não foram aplicadas com decisão. O mesmo ocorreu com as do Marquês de Esquilache com Carlos III (decreto de abolição da taxa do trigo e livre comércio de grão, 1765), que foi apartado após o motim que leva o seu nome (1766). O final do século XVIII é o da ascensão de políticos com ideias econômicas mais próximas à fisiocracia e o liberalismo econômico (Campomanes e Jovellanos), destacando-se o projeto de lei agrária e a liberalização do comércio americano; que também não conseguiram um desenvolvimento eficaz, já na crise do Antigo Regime.
Em Portugal

Outros países
As demais nações também adotaram as teses mercantilistas em diferente grau. Os Países Baixos, que se tornaram no centro financeiro da Europa graças à sua muito desenvolvida atividade comercial, estavam pouco interessados em restringir o comércio e somente na última hora adotaram algumas políticas mercantilistas.
O mercantilismo desenvolveu-se em Europa Central e em Escandinávia após a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648), quando Cristina da Suécia e Cristiano IV da Dinamarca passaram a preconizá-lo. Os imperadores Habsburgo interessaram pelas ideias mercantilistas, mas a extensão e a relativa descentralização deste Império fazia difícil a adoção de tais medidas. Alguns Estados do Império adotaram as teses mercantilistas, especialmente a Prússia, que teve sob o mandato de Frederico II a economia mais rígida da Europa. Com esta base doutrinal, a Alemanha ia gestar uma escola chamada dos "cameralistas" que teria influência até o Século XIX.
Rússia sob Pedro o Grande tratou de pôr em prática o mercantilismo sem muito sucesso devido à ausência de uma classe significativa de comerciantes ou de uma base industrial.


A batalha de Scheveningen, 10 de Agosto de 1653 por Jan Abrahamsz Beerstraaten, por volta de 1654, representa a batalha final da Primeira Guerra Anglo-Holandesa.
As ideias mercantilistas também alimentaram os períodos de conflito armado nos séculos XVII e XVIII. Ao ser a ideia dominante que o stock de riqueza é algo fez, o único jeito de aumentar a riqueza de um país era em detrimento de outro. Muitas guerras, entre as quais é preciso contar as guerras anglo-holandesas, franco-holandesa, e franco-inglesa foram ocasionadas pelas doutrinas que preconizavam o nacionalismo econômico. O mercantilismo contribuiu também para o desenvolvimento do imperialismo, pois todas as nações tratavam de apoderar-se de territórios para ficar com matérias-primas. Ao longo deste período o poder das nações europeias estendeu-se por todo o planeta. À custa da economia interior, esta expansão criou monopólios, quer as britânicas Companhia das Índias quer a Companhia da Baía de Hudson, quer a francesa Companhia das Índias Orientais.
Estas companhias privilegiadas tinham precedentes desde o século XIV nas cidades italianas de Pisa, Gênova, Florença e Veneza; a Hansa é omitida por responder a outra categoria funcional. Em Inglaterra surgirão algumas a partir de guildas medievais preexistentes, como as diferentes Company of Merchant Adventurers (séculos XV e XVI). Foi na Holanda independente da Monarquia Católica que apareceram as primeiras dignas do nome de companhias privilegiadas: a VOC (1602) e a WIC (1621). Outras nações tiveram companhias privilegiadas, notavelmente as nórdicas (Dinamarca, Suécia…). Na Espanha, apesar de contar com precedentes medievais, como os Consulados do Mar aragoneses ou as instituições similares castelhanas, a figura é de incorporação mais tardia: no século XVIII o monopólio do porto de Cádiz (sucessor do de Sevilha), já muito castigado pelas consequências comerciais do Tratado de Utrecht, foi admitindo a presença de alguma companhia similar, como a Compañía Guipuzcoana de Caracas (1728).
Críticas
Um bom número de estudiosos assinalou já alguns erros importantes nas teorias mercantilistas bem antes que Adam Smith desenvolvesse uma ideologia que o pudesse substituir completamente. Houve críticos como Dudley North, John Locke ou David Hume que atacaram os fundamentos do mercantilismo, e ao longo do século XVIII foi perdendo o favor que tivera. Os mercantilistas eram incapazes de entender noções como a da vantagem competitiva (embora esta ideia apenas chegasse a ser entendida com David Ricardo em 1817) e os benefícios do comércio. Por exemplo, Portugal era um produtor muito mais eficiente de vinho do que Inglaterra, enquanto na Inglaterra era relativamente mais barata a produção têxtil. Pelo tanto, se Portugal se especializava em vinho e a Inglaterra em têxteis, ambos os Estados sairiam beneficiados se comerciavam. Nas teorias econômicas modernas, o comércio não se entende como uma soma zero entre competidores, pois que ambas as partes podem ser beneficiadas, pelo qual se trata mais de um jogo de soma positiva. Mediante a imposição das restrições à importação, ambas as nações terminam sendo mais pobres que se não existissem travas ao comércio. ◘


Grande parte de "A Riqueza das Nações" de Adam Smith é um ataque ao mercantilismo.
David Hume, pela sua vez, apontou a impossibilidade do grande objetivo mercantilista de conseguir uma balança comercial positiva constante. À medida que os metais preciosos entravam num país, a oferta incrementar-se-ia e o valor desses bens nesse Estado começaria a reduzir-se com referência a outros bens de consumo. Pelo contrário, no Estado que exportasse os metais preciosos, o valor começaria a crescer. Chegaria um momento no que não compensasse exportar bens do país com altos preços ao outro país, que agora teria níveis de preços menores, e a balança comercial terminaria revertendo por si mesma. Os mercantilistas não entenderam este problema, e argumentaram durante muito tempo que um acréscimo na quantidade de dinheiro simplesmente significava que todo o mundo era mais rico.[39]
Outro dos objetivos principais à hora de criticar as teorias do mercantilismo foi a importância que dada aos metais preciosos, mesmo quando alguns mercantilistas começaram a tirar a importância do ouro e a prata. Adam Smith apontou que os metais preciosos eram exatamente iguais que qualquer outro bem de consumo, e que não havia razão alguma para lhe dar um tratamento especial. O ouro não era mais do que um metal de cor amarela que era valioso simplesmente por não ser abundante.
A primeira escola que recusou completamente o mercantilismo foi a da Fisiocracia, na França. Contudo, as suas teorias também apresentavam uma série de importantes problemas, e a substituição do mercantilismo não se produziu até que Adam Smith publicou a sua famosa obra "Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações" em 1776. Este livro amostra as bases do que atualmente se conhece como a economia clássica. Smith dedica uma parte considerável do livro a rebater os argumentos dos mercantilistas, se bem que estes são com freqüência versões simplistas ou exageradas dos seus pensamentos.[26]
Os acadêmicos também estão divididos à hora de estabelecer uma causa para o final do mercantilismo. Aqueles que crêem que a teoria era simplesmente um erro deduzem que a sua substituição era inevitável desde o momento em que as ideias de Smith, muito mais exatas, foram expostas ao público. Aqueles que opinam que o mercantilismo era uma procura de formas de enriquecimento para uma parte da sociedade entendem que somente terminou quando se produziram importantes câmbios na sociedade, e nomeadamente no sistema de poderes. No Reino Unido o mercantilismo foi desaparecendo a partir de que o Parlamento açambarcou o poder que o monarca tinha para estabelecer monopólios. Se bem que os ricos capitalistas que controlavam a Casa dos Comuns se beneficiavam desses monopólios, o Parlamento via difícil levá-los a cabo por causa do grande custo que supunha tomar essas decisões coletivas.[40]
Os regulamentos mercantilistas foram eliminados pouco a pouco ao longo do século XVIII no Reino Unido, e durante o século XIX o governo britânico adotou abertamente o livre comércio e as teorias econômicas de Smith do laissez faire. No continente o processo foi algo diferente. Na França as prerrogativas econômicas da monarquia absoluta foram mantidas até a Revolução Francesa, sendo então que terminou o mercantilismo. Na Alemanha o mercantilismo continuou sendo uma importante ideologia até começos do século XX.[41]
Legado
Ideias mercantilistas sobreviventes ◘


Alexander Hamilton preside os bilhetes de 10 dólares USA.
Pode afirmar-se que as críticas de Adam Smith ao mercantilismo foram aceitas no Império Britânico, mas recusadas nos Estados Unidos por figuras tão importantes quanto Alexander Hamilton, Friedrich List, Henry Clay, Henry C. Carey e Abraham Lincoln. No século XX, a maioria de economistas de ambos os lados do Atlântico chegaram a aceitar que em algumas áreas as teorias mercantilistas eram corretas. O mais importante foi o economista John Maynard Keynes, que explicitamente apoiou algumas das suas teorias.
Adam Smith recusara a ênfase que até então os mercantilistas puseram na quantidade de dinheiro argumentando que os bens, a população e as instituições eram as causas reais de prosperidade. Keynes argumentou que a quantidade de dinheiro em circulação, a balança comercial e os tipos de interesse tinham uma grande importância na economia. Este ponto de vista foi logo a base do monetarismo, cujos defensores atualmente recusam muitas das teorias econômicas keynesianas, mas que se desenvolveu e é atualmente uma das escolas econômicas mais importantes. Keynes também fez notar que o enfoque nos metais preciosos também era razoável na época na que se deu (começos da era moderna). Numa época anterior ao papel moeda, um acréscimo dos metais preciosos e das reservas do Estado era a única forma de incrementar a quantidade de dinheiro em circulação.
Adam Smith, por outro lado, também recusou a ênfase do mercantilismo para a produção, argumentando que a única forma de fazer crescer à economia era através do consumo (que, pela sua vez, impulsionava a produção de bens). Keynes, porém, defendeu que a produção era tão importante quanto o consumo. ◘


John Maynard Keynes.
Keynes e outros economistas do período também retomaram a importância que tinha a balança de pagamentos, e visto que desde a década dos anos 1930 todas as nações controlaram as entradas e saídas de capital, a maioria dos economistas está de acordo em que uma balança de pagamentos positiva é melhor que uma negativa para a economia de um país. Keynes também retomou a ideia de que o intervencionismo governamental é uma necessidade econômica.
Contudo, se bem que as teorias econômicas de Keynes tiveram um grande impacto, não tiveram tanto sucesso os seus esforços de reabilitar a palavra mercantilismo, que atualmente segue a ter conotações negativas e é usado para atacar uma série de políticas protecionistas.[42] Por outro lado, as similaridades entre o keynesianismo e as ideias dos seus sucessores com o mercantilismo às vezes fizeram que os seus detratores as categorizassem como neomercantilismo.
Por outro lado, alguns sistemas econômicos modernos copiam algumas das políticas mercantilistas. Por exemplo, o sistema do Japão ocasionalmente também é qualificado de neo-mercantilista.[43]
Uma área do uso da informação, Smith foi rebatido antes mesmo do que Keynes. Os mercantilistas, que eram geralmente mercadores ou funcionários públicos do governo, tinham em suas mãos uma grande quantidade de dados de primeira mão sobre o comércio, e usavam-nos consideravelmente nas suas pesquisas e escritos. William Petty, um mercantilista importante, é com freqüência considerado o primeiro economista em usar uma análise empírica para estudar a economia. Smith recusava este sistema por entender que o método dedutivo era o método correto para descobrir as verdades econômicas. Atualmente, porém, a maioria das escolas econômicas aceitam que ambos os métodos são importantes (se bem que a escola austríaca supõe uma notável exceção). ◘


Friedrich List.
Em instâncias específicas, as políticas mercantilistas protecionistas também tiveram um impacto positivo no Estado que as pôs em prática. O mesmo Adam Smith (sem importar a contradição em que incorria ao patrocinar o livre comércio para as demais e não para a sua própria nação) elogiou as Atas de Navegação inglesas por terem servido para expandir enormemente a frota mercante britânica, e por ter um papel central em tornar o Reino Unido na superpotência naval e econômica que foi desde então.[44] Alguns economistas argumentaram que o protecionismo era bom para indústrias em desenvolvimento, e que se bem que causa alguns danos a curto prazo, pode ser benéfico a longo (teoria das "indústrias infantis" do alemão Friedrich List).
Em qualquer caso, A Riqueza das Nações teve um profundo impacto no final do mercantilismo e a adoção posterior da política de livre mercado. Para 1860, a Inglaterra já eliminara os últimos vestígios do mercantilismo (por exemplo, as protecionistas leis do grão ou corn laws). As regulamentações industriais, os monopólios e as tarifas alfandegárias foram retiradas. Convertida em "a oficina do mundo", com uma indústria e uma frota mercante com a que ninguém podia competir, Inglaterra converteu-se na grande defensora e propagandista da política de livre mercado, justo no momento em que mais a beneficiava, e o continuou a ser até a Primeira Guerra Mundial, quando a segunda revolução industrial trouxe competidores sérios.
Herança política
A posteridade do mercantilismo foi sem dúvida maior na prática política que na teoria econômica. Se o pensamento econômico do Século XIX é dominado pelas escolas clássica e neoclássica, mais bem favoráveis ao livre-comércio, a prática política esteve influenciada durante muito tempo por ideias mercantilistas. Como faz ver o historiador Paul Bairoch, apesar de "os homens deixarem de razoar em termos de nível de desenvolvimento a conseguir em maior ou menor tempo passando a fazê-lo em termos de apropriação de uma parte maior de riqueza", em 1815 e em 1913, o mundo ocidental é "um oceano de protecionismo rodeando alguns ilhotes liberais".[45]
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, assiste-se a uma liberalização contínua do comércio mundial sob o impulso das grandes instituições de livre-comércio como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional (FMI). Contudo alguns economistas como Paul Krugman opinam que estas instituições estão guiadas por um "mercantilismo ilustrado", que não tenta favorecer os princípios do livre-comércio, senão favorecer as concessões comerciais mutuamente vantajosas.[46] Outros economistas radicais e pensadores chegam a afirmar que essas organizações, com a escusa do livre-comércio, impõem a forma de comércio internacional que desejam as grandes potências econômicas que os controlam.[47]


Manifestação para a manutenção do protecionismo à agricultura no Japão. Os protestos antiglobalização incluem habitualmente a defesa de posições similares ao mercantilismo.
Segundo Daniel Cohen, os recentes insucessos das negociações no seio da OMC resultam reveladores desse "mercantilismo ilustrado". Se as negociações das anteriores etapas chegaram a ter sucesso, foi graças a comprometimentos, a concessões recíprocas e eqüitativas. Os países ricos aceitavam, por exemplo, liberalizar o setor têxtil em troca de vantagens em matéria de serviços financeiros concedidos pelos países emergentes. Por outro lado, após a cimeira de Cancún em 2003, as negociações entre países ricos e pobres mudaram de natureza. Os debates focalizam-se no tema agrícola no que as oportunidades de um intercâmbio mutuamente benéfico apareceram impossíveis. Longe de ser um "jogo de soma positiva", o comércio internacional aparece como um "jogo de soma zero", o desafio da cimeira passou a ser: "nossos agricultores ou os vossos", como se as ganâncias de uma nação significassem perdas para outra.[48]
O término neo-mercantilismo serve para designar, quase sempre de jeito pejorativo, as políticas contemporâneas que lembram as dos mercantilistas do Século XVIII. Consistem quase sempre em medidas protecionistas ou em políticas comerciais agressivas nas quais o Estado se implica para fomentar a competitividade das empresas nacionais.
No contexto da globalização, o neo-mercantilismo baseia-se no conceito de "competência mundial", vindo a ser uma "guerra econômica" entre os países. Diz-se que a proteção às empresas nacionais e o apóio à sua competitividade nos mercados mundiais é proveitosa para a economia nacional. Assim algumas grandes potências são acusadas de neo-mercantilistas quando apóiam à sua indústria nacional por meio de subvenções ou de encargos estatais, ao mesmo tempo em que impõem quantidades, taxas ou normas à importação, para proteger o seu mercado interior. O conflito Boeing-Airbus, unido às subvenções atribuídas a cada uma das suas empresas por parte dos governos norte-americano (em forma de encargos) e europeus, pode ser visto como exemplo de neo-mercantilismo.
O conceito de "guerra comercial" alimenta as campanhas políticas das grandes potências econômicas: é preciso "fazer Europa para chegar ao peso" dizia um cartaz do Partido Socialista Francês que apresentava a Europa frente de um lutador de sumo japonês e um obeso norte-americano durante a campanha eleitoral para o referendum sobre o Tratado de Maastricht em 1992. Segundo alguns, essas políticas servem de contrapeso para os efeitos supostamente negativos da globalização econômica sobre a justiça social, enquanto os economistas do livre-comércio opinam que favorecem interesses particulares de algumas indústrias e prejudicando ao interesse geral. Contudo, o conceito de preferência comunitária não é uma realidade jurídica, nem sequeira econômica. Se foi sancionado pelo Tribunal de Justiça da União Europeia a 13 de Março de 1968 em matéria de política agrária comum (em função de um direito de alfândega sobre os produtos procedentes de países terceiros), pronto topou-se com os objetivos do GATT. Atualmente é mantida uma tarifa exterior comum, que provoca com freqüência duras discussões entre os países membros da União Europeia e a Organização Mundial do Comércio.


Biografia


http://pt.wikipedia.org/wiki/Mercantilismo

Nomes: Chryslaine, Gabriela Cardoso, Luana e  Larissa.